Conto
por Rogério Ribeiro.
Ele era um bom homem; Fiel.
Na cidade em que vivera desde o
nascimento, ele era tido por fiel... Diante da sociedade e sua corrupção, fiel. Para o que acreditava... Fiel.
Sua vida fiel fora um presente para si;
Era
o prêmio que sem reservas, o satisfazia.
Então, ele a tomou. A mulher infiel. Tomou-a
para si e para sua vida e coração fieis.
A mulher que, segundo os moradores da pequena
cidade, não seria a parte que lhe completaria a alma. Ela não lhe cabia; Sem reservas, era também
ela, uma prostituta.
E a amou. Não como fora amada até então, mas como jamais
fora.
Das mulheres da cidadela que era
a capital da nação, era reconhecida como tal, a mal amada em toda a extensão de sua vida.
Com toda verdade, era ela desde que se lembrara.
Uma de muitas; mulheres da
luxúria ou não, era ela a que se gabava
de não ser, de não ter... De não
esperar.
Vivia assim, como se não fosse o que se tornara; como sendo o que quisera ser. E não era.
Vivia assim, como se não fosse o que se tornara; como sendo o que quisera ser. E não era.
Ele, era um dos poucos. Um dos fieis. Pouquíssimos. Era justa e ricamente conhecido por sua extrema virtude: A fidelidade. Podia se dizer que honrava a si, mas diziam na
verdade, os que passavam e queriam pesar-lhe a alma, que era apenas um pobre e
inútil. Apenas o fiel.
Pesavam-lhe a vida na tentativa de lembra-lo, de que não era deste mundo e nem d'outra sorte qualquer. Para que Ele?
Não conseguiram.
Ele porém, sentia todo o desprezo de todos, por
ter tomado em seus braços, a mulher da qual tomavam tudo e que já não possuía a vontade de ter.
Ele suportou a humilhação da fala
virtuosa e das línguas inversas; Todas.
E levou-a consigo para que ela fosse; pois já não era.
Não seria se ele não a amara. Não teria. Então ela foi.
E a amou. Como fora predestinada a ser.
Ele a tomou e frutificou nela o
que dantes era morto e seco. Avivou
suas vísceras e a fez vontade. Fez nela,
a vontade de viver.
Ela a tomou e viveu.
Seu corpo de pé, esguio, agora tinha o sopro que organicamente, organizava todos os organismos mortos que jaziam nela.
Dantes, era a sua vida uma falta de vida sem
beira, pois a morte lhe rondava e a ocupava toda. Agora, vivia.
Por tomar do amor oferecido, vivia em si e não por
outros.
A diferença tênue, onde residia toda a diferença.
E Foi mãe de filhos; E ele a amou ainda mais...
Porém, ela o deixou. Deixou-o simplesmente.
Infiel,
deixou-se de lado, deixando-se levar por estímulos infiéis que nem eram pensamentos... Nem sequer, eram. Deixou seu mundo fiel em troca dos prazeres ainda
não consumados e nem seus. Secou as vísceras e foi.
No bordel de dores, havia se
deitado em camas de amantes pouco amados que buscavam o amor das noites, antes
que o dia chegasse. Ela voltara a eles.
E se envolveu; Tão ferozmente, que já não se reconhecia como
antes, nem teria qualquer ideia acerca de qualquer depois. Tornou-se tão escrava de seus prazeres que
virou escrava a fim de garantir o comer e o sobreviver como tal.
Era o fim. De todo um inicio doloroso, o que superaria
qualquer dor. Ela aumentaria e a faria escrava até o fim; até extingui-la por
toda; completamente e por tudo.
O fim não pensado; o fim evitado.
O fim não ouvido.
Ele à espreita, esperava a sua vez. A vez de fazer de uma vez por todas, a última vez. A vez de fazer sua e sem reservas, a mulher que
amara, para amá-la reservando-lhe o direito que lhe era negado.
Comprou-a. Pagou pelo devido. Trouxe-a de volta.
“Daqui por diante serás minha.
Minha escrava...”
“... Minha ordem é que sejas tua.
E que sejas minha. Dou-te minha
fidelidade e me darás a tua... Esperarás por mim e eu, por ti”.
Ela não sairia. Não fugiria. Não poderia.
Seria refém de um amor eterno e teria a vida que provara...
E que queria.
Uma "parábola" do amor incondicional, esta é a real história de um homem
que amou uma mulher com toda a sua força, há milênios...
Distante de “clichês” de amor por um só ponto: Ele negou a si mesmo e a toda dor. E amou.
Nela, temos uma visão clara do amor não vivido, não conhecido...
Distante.
O único suficiente...
Para dar exemplo; de amar a si e amar o outro...
Seja ele quem for.