quinta-feira, 4 de julho de 2013

ENTRE TANTOS

Conto 
por Rogério Ribeiro









Em um pequeno país já inexistente, um homem vivia e revivia os direitos, deveres e até, os rumores de que falavam tanto, as pessoas que com ele dividiam a vida na também pequena cidade adorável, feita com esmero pelas mãos hábeis e certeiras do Rei daquelas terras.

No entanto, a aprazível cidade fora tomada por ladrões que se faziam de conquistadores de intentos ao humilde povo.

Já não era a mesma, a doce cidade cujo o pobre homem vivera desde a mais tenra idade.

Pobre, porque apesar do conceito e crença dos que coabitavam com ele em seu tempo, ele se enfadava em sofrer a ideia de que era completo; sandices e dejetos, por assim dizer, eram o que na verdade, saiam de suas gargantas.

Eles não sabiam certamente, quem  era e o que era, o homem que para si mesmo, era o homem pobre, que lhes conto.

Entre tantos outros, de formas e feitos diversos e muito além do que conseguiria pensar em querer ser, estava ele, vivendo feliz por onde podia e até queria, apesar de não querer muito, porque não poderia ir muito além.  

Não era tão completo.  Não era tão, o que diziam que era.

Mesmo assim, deixava com que acreditassem, ser ele, o produto que finalizaram em sua vã compreensão.

A cidade, cercada por aspirantes a hábeis ladrões perversos, rendeu-se; Tomaram-na e fizeram nela o que quiseram enquanto não chegava ainda aos ouvidos do soberano Rei, que uma de suas amadas cidades corria perigo.

Imediatamente, quando ouviu, o Rei deu ordens aos seus, que não fossem poupados, nenhum dos que se atreviam tentar roubar o que lhes era devido; a paz de buscarem além do que queriam, o que mereciam ter.

Em direção à terra amada, soldados armados e revigorados, seguiam em tropas, rumo à retirada dos que a importunavam. O Rei que ia à frente de todo o exército, pronto a restabelecer o curso da vida que tanto preservara,  estava certo de que o direito de seus súditos, seria retomado.  

Na terra confusa por roubos diversos ao povo e a seus sonhos, o homem pensava que seria impossível agora, reaver o detalhe que morava discreto em sua vida; eram saqueados dos viventes daquela terra, os bens adquiridos, enquanto os conquistadores falavam de suas  inversas conquistas na entrada da cidade. Extasiada, a multidão se entregara e  absorta, parava para vê-los em seus falsos atos... Haviam se  despercebido de que eram ladrões.

Com olhos arregalados, viam como a um espetáculo, as falas dos falsários enquanto suas casas eram subtraídas e mulheres, crianças e indefesos, eram levados.

O homem, estacionado entre a fala e o pensamento, via e só faltava desfazer-se para não ser e não mais ver o que se passava na terra perdida.

O povo, preso pelos olhos aos artefatos ilusórios, que os ladrões, lançavam aos céus, não mais se incomodava  quando via  sair pelas ruelas, os seus comparsas levando embora todo o seu trabalho e futuro.

Quando pode voltar a si, o homem concluiu em seu estado que estava perdida a ideia de que seria completo entre tantos outros incompletos e que nem se davam conta. 

Por que, diante de tanta e complexa dúvida, se atreveriam a viver ainda, os que não confrontavam os abutres que aviam pousado por  lá e que aos poucos, arrancariam-lhes tudo?

Ele não sabia... 

E, por não saber, parou para contemplar com atenção o restante do ocaso da cidade feliz. 

Ele não era mais, o mais importante...  Nem para si.

Diante de seu corpo estático, era morto um dos poucos que lutavam e que ainda se davam o espaço para se preocupar com ele e sua incompletude... Foi morto ali, enquanto a multidão, mais adiante, festejava o engodo do qual nunca sentira falta, até então.

Então, ele saiu por entre a multidão, carregando as dores que pareciam ser a de todos os que se inebriavam pela luxúria que pouco conheciam.  Andou; na esperança de não mais vê-la, exposta em seus rostos sorridentes de olhos cegos. 
Não os veria quando deixasse a cidade.

Ao sair pelos grandes portões, ninguém o viu a não ser o Rei que vinha pelo caminho.

Ao ver o homem, mandou que parassem o carro, enquanto o comandante seguiu adiante com a tropa, em busca da cidade e sua nobreza perdida.  

O homem ali,  perplexo diante do que vira disse ao Rei:

- Majestade, alguns... Foram mortos... TODOS...foram saqueados!  De todas as formas... Todos! 

 - Você se restabelecerá... E não se lembrará, mais deste dia...  Respondeu o Rei olhando fixamente nos olhos do homem exausto.

Abaixando a cabeça, o homem respondeu com lágrimas:

- O único amigo...  O único... Foi morto... Diante dos meus olhos! O que ainda se importava,... Foi ceifado... Agora, não tenho mais quem se importe!

O Rei então, levantando o rosto do pobre homem, respondeu:  

- Filho;  Eu sou o seu Rei... Se não amasse o meu povo não haveriam exércitos para defendê-lo, ou esta cidade que construí... Quem ama a um país inteiro, pode muito, cuidar de um só homem...  

... Eu sou o seu Rei!






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