Conto
por Rogério Ribeiro
Em um pequeno país já
inexistente, um homem vivia e revivia os direitos, deveres e até, os rumores de que
falavam tanto, as pessoas que com ele dividiam a vida na também pequena cidade
adorável, feita com esmero pelas mãos hábeis e certeiras do Rei daquelas terras.
No entanto, a aprazível cidade fora tomada por
ladrões que se faziam de conquistadores de intentos ao humilde povo.
Já não era a mesma, a doce cidade cujo o pobre homem
vivera desde a mais tenra idade.
Pobre, porque apesar do conceito e crença dos que coabitavam com ele em seu tempo, ele se enfadava em
sofrer a ideia de que era completo; sandices e dejetos, por assim dizer, eram o que na verdade, saiam de suas gargantas.
Eles não sabiam certamente, quem era e o que era, o homem que para si mesmo, era o homem pobre, que lhes conto.
Entre tantos outros, de formas e
feitos diversos e muito além do que conseguiria pensar em querer ser, estava
ele, vivendo feliz por onde podia e até queria, apesar de não querer muito, porque não poderia
ir muito além.
Não era tão completo. Não era tão, o que diziam que era.
Mesmo assim, deixava com que acreditassem, ser ele, o
produto que finalizaram em sua vã compreensão.
A cidade, cercada por aspirantes a hábeis ladrões perversos, rendeu-se; Tomaram-na e fizeram nela o que quiseram enquanto não
chegava ainda aos ouvidos do soberano Rei, que uma de suas amadas cidades corria
perigo.
Imediatamente, quando ouviu, o Rei deu ordens
aos seus, que não fossem poupados, nenhum dos que se atreviam tentar roubar
o que lhes era devido; a paz de buscarem além do que queriam, o que mereciam ter.
Em direção à terra amada, soldados armados e revigorados, seguiam em tropas, rumo à retirada dos que a importunavam. O Rei que ia à frente de todo o exército, pronto a restabelecer o curso da vida
que tanto preservara, estava certo de que o direito de seus súditos, seria
retomado.
Na terra confusa por roubos
diversos ao povo e a seus sonhos, o homem pensava que seria impossível agora,
reaver o detalhe que morava discreto em sua vida; eram saqueados dos viventes
daquela terra, os bens adquiridos, enquanto os conquistadores falavam de suas inversas conquistas na entrada da cidade. Extasiada, a multidão se entregara e absorta, parava para vê-los em seus falsos atos... Haviam se despercebido de
que eram ladrões.
Com olhos arregalados,
viam como a um espetáculo, as falas dos falsários enquanto suas casas eram subtraídas
e mulheres, crianças e indefesos, eram levados.
O homem, estacionado entre a fala e o
pensamento, via e só faltava desfazer-se para não ser e não mais ver o que se passava na terra perdida.
O povo, preso pelos olhos aos artefatos
ilusórios, que os ladrões, lançavam aos céus, não mais se incomodava quando via sair
pelas ruelas, os seus comparsas levando
embora todo o seu trabalho e futuro.
Quando pode voltar a si, o homem
concluiu em seu estado que estava perdida a ideia de que seria completo entre
tantos outros incompletos e que nem se davam conta.
Por que, diante de tanta e
complexa dúvida, se atreveriam a viver ainda, os
que não confrontavam os abutres que aviam pousado por lá e que aos poucos, arrancariam-lhes tudo?
Ele não sabia...
E, por não saber,
parou para contemplar com atenção o restante do ocaso da cidade feliz.
Ele não era
mais, o mais importante... Nem para si.
Diante de seu corpo estático, era
morto um dos poucos que lutavam e que ainda se davam o espaço para se preocupar com ele e sua
incompletude... Foi morto ali, enquanto a multidão, mais adiante, festejava o
engodo do qual nunca sentira falta, até então.
Então, ele saiu por entre a multidão, carregando as dores que pareciam ser a de todos os que se inebriavam pela luxúria que
pouco conheciam. Andou; na esperança de
não mais vê-la, exposta em seus rostos sorridentes de olhos cegos.
Não os
veria quando deixasse a cidade.
Ao sair pelos grandes portões, ninguém
o viu a não ser o Rei que vinha pelo caminho.
Ao ver o homem, mandou que parassem o carro, enquanto o comandante seguiu adiante com a tropa, em busca da cidade e sua nobreza perdida.
O homem ali, perplexo diante do que vira disse
ao Rei:
- Majestade, alguns... Foram mortos... TODOS...foram saqueados! De todas as
formas... Todos!
- Você se restabelecerá... E não se lembrará,
mais deste dia... Respondeu o Rei
olhando fixamente nos olhos do homem exausto.
Abaixando a cabeça, o homem
respondeu com lágrimas:
- O único amigo... O único... Foi morto... Diante dos meus olhos! O que ainda se importava,... Foi ceifado... Agora, não tenho mais quem se importe!
O Rei então, levantando o rosto do pobre homem, respondeu:
- Filho; Eu sou o seu Rei... Se não amasse o meu povo
não haveriam exércitos para defendê-lo, ou esta cidade que construí... Quem ama a um país inteiro, pode
muito, cuidar de um só homem...
... Eu sou o seu Rei!
Nenhum comentário:
Postar um comentário