por Rogério Ribeiro
A poeira fina começava a
incomodar em meio ao vento incomum, naquele dia.
O caminho por entre a região
árida, no entanto, era menos pesado do que o que trazia em seu peito...
A dor que antes era o ódio mortal
lhe sobrecarregava os ombros, mas era ignorada e incrivelmente sustentada pela
vontade veemente e incessante de tirar a vida de quem era, para ele, os que
tiravam a vida em sua maior forma.
A vida havia lhe tornado sabedor
de tudo e de muito mais...
As ideias o
haviam posto em destaque, bem no meio dos que dominavam o saber e entre os que
não se atreviam a deixar que outros se atrevessem a questioná-los; eram
sabedores profundos... Prosélitos, o tornaram próximo.
Procurava aplacar a fúria que
alimentava; sem ela, deveria se ater, contendo-se às respostas que não queira em
seus ouvidos.
De posse de sua vontade e das
cartas que transferiam a ele, o poder de perseguir os contrários, montou o
cavalo que não suportaria o tal tormento e foi-se.
Cercado pelos que os serviam, ele
estava a caminho da morte de suas contrariedades, pensava.
À sós; ele e a conhecida e extenuante vontade e conhecimento.
À sós; ele e a conhecida e extenuante vontade e conhecimento.
Seriam finalmente exterminados por sua mão,
os que não foram aplacados; O peso que poderia leva-lo ao chão seria retirado. Já
não mais importava o meio de todas as questões, mas onde havia chegado o volume
de sua própria e imunda justiça...
Certo
estava de que, insatisfeito, não voltaria.
A fina camada de poeira em suas
roupas aumentava; O vento inquieto e forte não o ameaçava na tarde quente
daquele último dia de trevas, em tão grande e quase fulminante sol, mas tomou à força, sua atenção do coração que se tornara seu senhor.
O astro maior quase lhe cegava a
visão quando tentava olhar as nuvens que julgava permanecerem no céu após o vento. Ele
e seus homens, não conheciam quente como aquele, longe dos desertos conhecidos.
Então, a grande tempestade de
areia começou em volta; Por cima e baixo, levando-o a tentar ver o que se
passava na direção ainda permitida, se houvera.
O Astro maior que o Sol havia
descido até ele e, por um milésimo de instante, ele pensou ser o próprio sol que, agora, colidia com seus olhos, queimando-lhe a visão.
A luz intensa e branca pôs fim à ela,
queimando-lhe as pálpebras que, até
àquele dia, haviam resistido à maior verdade.
Por entre a pele da cortina
visual retorcida, sua visão se espremeu um pouco mais para ver o dia e se ainda
o era, lá fora.
Branco.
Assustadoramente branco, era tudo
em redor além de um brilho ultra solar que somente lhe derretia as
pálpebras.
Além da luz intensa, a voz
era a única presente na visão e mente:
“Porque queres por fim a
Verdade?...” Perguntou.
Mudo.
Não ousava pronunciar ou pensar.
Os que o acompanhavam, estavam em qualquer outro lugar, menos em seus
pensamentos.
A Luz inimaginável deixou nele a
ideia e a imagem do Branco luminoso e insustentável.
Envolvendo-o todo com a atmosfera
de temor, qual havia esquecido, a visão da intensa claridade deixou-o chocado;
inerte.
Diante do boquiaberto, a Verdade o instruiu a se levantar e a entrar
na cidade.
Ele se levantou e, com a ajuda e
amparo dados a uma criança, foi... Cego, levado ao seu cavalo e conduzidos; ele e
o animal ao lugarejo.
Hospedou-se. Nada além do branco, era suposto ou até
imaginado pelo cego que o era, desde muito. O diálogo com a fusão de cores, pesada à vista de qualquer
mortal, era ainda mais pesada do que o fardo que trazia, desde as ofensas à sua
sabedoria. Seria ela agora a
assombrá-lo?
Nos dias em que ficou com os
olhos tapados pela densa camada de pele queimada e poeira encrostadas, o
pensamento em palavras dizia e não era tão ensurdecedor quanto o silencio
pacifico. A sabedoria por detrás das portas de nuvens espeças em sua
imaginação, sairia, a qualquer tempo, na imagem clara de sua visão limitada ao
branco. O alimento não encontrava
espaço; nem água molhou sua boca e garganta. Só o silencio, como o ar, entrava e saia de
seu corpo; e nele, a verdade, como antes; a substancia pura e sem mácula que o
havia feito dantes, verdadeiro sabedor.
Era como se o tempo fora dele, houvesse parado.
Circulando distantes, ao derredor de seu corpo fraco e sedado humilde, as mortes consentidas à assassinatos; as culpas e erros, a dor que só não o abatia, por circundá-lo a distancia.
Circulando distantes, ao derredor de seu corpo fraco e sedado humilde, as mortes consentidas à assassinatos; as culpas e erros, a dor que só não o abatia, por circundá-lo a distancia.
Os pensamentos que naqueles três
dias o faziam parar, eram apenas o começo íngreme do que deveria seguir.
O pensar em voltar pelo caminho a reparar o irreparável, não era possível como também não seria, retornar a areia ao seu deserto.
O pensar em voltar pelo caminho a reparar o irreparável, não era possível como também não seria, retornar a areia ao seu deserto.
A autoridade implacável e
temida, era agora o mais vazio dos vasos de poder.
As pálpebras duras e entumecidas
pela velha pele, caíram como escamas de pele e pó... Com elas, a brancura plácida
e certezas que não serviam a ninguém...
Principalmente, a ele...
Ele voltara a ver.
Ele voltara a ver.