terça-feira, 6 de agosto de 2013

SÁBIO E CEGO.

Conto
por Rogério Ribeiro












A poeira fina começava a incomodar em meio ao vento incomum, naquele dia.

O caminho por entre a região árida, no entanto, era menos pesado do que o que trazia em seu peito...  

A dor que antes era o ódio mortal lhe sobrecarregava os ombros, mas era ignorada e incrivelmente sustentada pela vontade veemente e incessante de tirar a vida de quem era, para ele, os que tiravam a vida em sua maior forma. 

A vida havia lhe tornado sabedor de tudo e de muito mais...  
As ideias o haviam posto em destaque, bem no meio dos que dominavam o saber e entre os que não se atreviam a deixar que outros se atrevessem a questioná-los; eram sabedores profundos...  Prosélitos,  o tornaram próximo.

Procurava aplacar a fúria que alimentava; sem ela, deveria se ater, contendo-se às respostas que não queira em seus ouvidos.

De posse de sua vontade e das cartas que transferiam a ele, o poder de perseguir os contrários, montou o cavalo que não suportaria o tal tormento e foi-se.


Cercado pelos que os serviam, ele estava a caminho da morte de suas contrariedades, pensava.
À sós; ele e a conhecida e extenuante vontade e conhecimento. 
Seriam finalmente exterminados por sua mão, os que não foram aplacados; O peso que poderia leva-lo ao chão seria retirado. Já não mais importava o meio de todas as questões, mas onde havia chegado o volume de sua própria e imunda justiça...  
Certo estava de que, insatisfeito, não voltaria.


A fina camada de poeira em suas roupas aumentava; O vento inquieto e forte não o ameaçava na tarde quente daquele último dia de trevas, em tão grande e quase fulminante sol, mas tomou à força, sua atenção do coração que se tornara seu senhor.

O astro maior quase lhe cegava a visão quando tentava olhar as nuvens que julgava permanecerem no céu após o vento. Ele e seus homens, não conheciam quente como aquele, longe dos desertos conhecidos.

Então, a grande tempestade de areia começou em volta; Por cima e baixo, levando-o a tentar ver o que se passava na direção ainda permitida, se houvera.

O Astro maior que o Sol havia descido até ele e, por um milésimo de instante, ele pensou ser o próprio sol que, agora, colidia com seus olhos, queimando-lhe a visão.

A luz intensa e branca pôs fim à ela, queimando-lhe  as pálpebras que, até àquele dia, haviam resistido à maior verdade.

Por entre a pele da cortina visual retorcida, sua visão se espremeu um pouco mais para ver o dia e se ainda o era, lá fora.


Branco.

Assustadoramente branco, era tudo em redor além de um brilho ultra solar que somente lhe derretia as pálpebras. 

Além da luz intensa, a voz era a única presente na visão e mente:

“Porque queres por fim a Verdade?...”  Perguntou.


Mudo.

Não ousava pronunciar ou pensar. Os que o acompanhavam, estavam em qualquer outro lugar, menos em seus pensamentos.


A Luz inimaginável deixou nele a ideia e a imagem do Branco luminoso e insustentável.
Envolvendo-o todo com a atmosfera de temor, qual havia esquecido, a visão da intensa claridade deixou-o chocado; inerte.

Diante do boquiaberto,  a Verdade o instruiu a se levantar e a entrar na cidade.

Ele se levantou e, com a ajuda e amparo dados a uma criança, foi... Cego, levado ao seu cavalo e conduzidos; ele e o animal ao lugarejo.

Hospedou-se.  Nada além do branco, era suposto ou até imaginado pelo cego que o era, desde muito. O diálogo com a fusão de cores, pesada à vista de qualquer mortal, era ainda mais pesada do que o fardo que trazia, desde as ofensas à sua sabedoria.  Seria ela agora a assombrá-lo?

Nos dias em que ficou com os olhos tapados pela densa camada de pele queimada e poeira encrostadas, o pensamento em palavras dizia e não era tão ensurdecedor quanto o silencio pacifico.    A sabedoria por detrás das portas de nuvens espeças em sua imaginação, sairia, a qualquer tempo, na imagem clara de sua visão limitada ao branco.  O alimento não encontrava espaço; nem água molhou sua boca e garganta.  Só o silencio, como o ar, entrava e saia de seu corpo; e nele, a verdade, como antes; a substancia pura e sem mácula que o havia feito dantes, verdadeiro sabedor.

Era como se o tempo fora dele, houvesse parado.

Circulando distantes, ao derredor de seu corpo fraco e sedado humilde, as mortes consentidas à assassinatos; as culpas e erros, a dor que só não o abatia, por circundá-lo a distancia.

Os pensamentos que naqueles três dias o faziam parar, eram apenas o começo íngreme do que deveria seguir.  
O pensar em voltar pelo caminho a reparar o irreparável, não era possível como também não seria, retornar a areia ao seu deserto. 
A autoridade implacável e temida, era agora o mais vazio dos vasos de poder. 

As pálpebras duras e entumecidas pela velha pele, caíram como escamas de pele e pó... Com elas, a brancura plácida e certezas que não serviam a ninguém...


Principalmente, a ele...


Ele voltara a ver.
  







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