Conto
por Rogério Ribeiro
O céu continha algumas poucas e
pequenas nuvens que pareciam mais às de um painel pintado, reproduzindo os
momentos que antecedem a chuva.
Todos esperavam.
Todos esperavam.
Ela deveria vir para todos; sem exceção. Era esperada.
A estiagem deveria ceder ao período de
chuvas, como em todos os anos. Então,
viria.
O homem que esperava não perder a
colheita de um trabalho árduo, ansiava tanto quanto as mulheres que rondavam a
cidade em busca de votos para um dos candidatos a prefeito que defendia, é
claro, não as ideias que as agradavam, mas defendia a falta de uma iniciativa
pró- chuvas.
A despeito de alertas sobre
fatores climáticos bem diferentes dos de sempre e de viverem num planeta mais
diferente ainda, elas manifestavam–se à cidade, que queria com todo o querer,
a chuva, contrariando-a.
Ora,... O que fariam com a chuva?
Diziam.
Não sabiam; Diziam a tempo e
fora, viver do sol e que a chuva... "Ora, a chuva", era coisa de um passado de restrições e
enganos e perdas e tal...
Era insano para os que refletiam nas ultimas poças de intelecto que resistiam à seca de tantas paixões.
Era insano para os que refletiam nas ultimas poças de intelecto que resistiam à seca de tantas paixões.
“A chuva... - pensavam - é ainda eficaz,
em outras áreas da cidade e próximo às lavouras somente...”.
Elas eram poucas, mas pensavam,
por rodear a cidade e não ver mais nenhuma, rodeando-a, que eram a maioria.
Estavam
débeis. Ficaram.
As beatas e os burocratas da
região queriam também, que as águas descessem do céu azul e quase sem sombra.
"A bendita água" de que tanto precisavam.
As beatas, para lavar a igreja e os burocratas... Estes, para não perder o que haviam gastado em suas empreitadas.
As beatas, para lavar a igreja e os burocratas... Estes, para não perder o que haviam gastado em suas empreitadas.
As crianças da creche da prefeitura e o gado
de poucos fazendeiros não estavam em situação pior por pouco...
Bem pouco.
As
autoridades estavam fora da cidade.
Os
trabalhadores, traziam do rio quase extinto que corria junto às minas, a água
que abastecia o pequeno abrigo infantil.
O mesmo faziam os fazendeiros; para não sofrer o gado e a falta dele.
O mesmo faziam os fazendeiros; para não sofrer o gado e a falta dele.
Havia crianças, jovens e mulheres
na praça onde toda a conversa, somente era feita entre casais e onde o monólogo
de uns poucos era difundido, com ares de dialogo.
Na praça cenográfica, os comícios
que queriam dizer que o povo dizia, diziam que os homens não estavam lá!
Ora... Os homens da cidade não poderiam parar
a ponto de ir ver o tão esperado descer das águas, enunciado por todos!
Não
podiam. Eles estavam nas minas.
Mas, esperavam. Não como tolos, mas da forma
que aprenderam. O que para alguns, era tola.
Todos os dias, antes de
percorrerem a extensão que haviam cavado, juntavam-se em pequenos grupos e punham-se
a queimar o que poderia ser queimado, na tentativa de fazer chuva, com o suor
do rosto. Daí, entravam e começavam
então, a ganhar o pão.
Esperavam que quando saíssem no
fim do dia, as grossas nuvens que vislumbravam formarem-se no céu enquanto ainda
atestavam a escuridão das minas, molhassem suas cabeças e lhes revigorassem o
corpo.
Não se sabia ao certo, quem dera
a noticia de que naquele dia, viriam tão rápido, as águas que já faltavam ao
vilarejo e a toda a região, há cerca de 2 anos.
Muitos não acreditavam, mas esperavam. Crendo
ou não, de uma forma ou de outra, esperavam; No mesmo pedaço de mundo.
Havia também os jovens que
dividiam suas vidas entre os que estudavam e os que eram enviados para o
serviço militar.
Os enviados nutriam um gosto especial pela cidade que os
expulsara, enquanto os que ainda se assentavam em suas salas de aula, ansiosos,
não pensavam na chuva; Mal podiam aguardar até que soasse o bendito sinal que
os levaria dali, até o próximo e terrível dia.
Quando chegavam a suas casas, os
que ligavam a tevê e abriam a geladeira, não queriam saber da chuva;
Queriam o
banho.
A falta, lhes mandaria ao quarto
em poucos minutos; Apenas o tempo de conferirem o que poderia ser feito sem o
liquido idiota.
As horas? Passavam.
Todos; sem passado ou presente diverso,
eram o povo da cidade sem chuva e sem futuro.
Na praça, representando alguns
dos que estavam em casa nos quartos, alguns dos que se foram e muitos, -
segundo os que mais gritavam - que eram "a maioria", estavam lá, gritando pelas
formas e reformas do novo candidato atraente, que traria e atrairia a tudo o que
superaria a própria chuva.
Onipresente
como parecia ser, Ele, nem estava lá.
A discussão seguia e as horas se
amontoavam, mas a chuva não caia.
E se passaram... Dias e noites; e
iam, se enfileirando, um após o outro, e pesando mais e cada vez mais, o pesar
dos poucos que pesavam tudo o que faziam ali, enquanto a história dizia e lhes
lembrava, de que não seria assim, o fim de seca dos dias.
Secos, um mais que o outro, eles agora retornavam às suas casas, deixando nas praças as mulheres que não queriam largar
a praça de ideias que ainda reluziam em suas cabeças na noite escura e seca.
Um dos que pouco tinha notado a
paisagem da bela cidade em tempos de luta por novas e impossíveis chuvas,
deu-se o prazer de caminhar pelo caminho junto ao rio quase seco para ver entre
montanhas ao longe, o que lhe poderia trazer de volta a esperança de um dia de
chuva.
O contorno das montanhas, de um
azul que indicava a alvorada, recobria também os tetos das casas e as copas das
árvores que finalizavam a visão:
Era de
um azul profundo, como antes e antes...
A não ser, por sobre as minas:
Generosamente, estavam cobertas
de nuvens.
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