quarta-feira, 12 de junho de 2013

A BATALHA DOS SECOS

Conto
por Rogério Ribeiro







O céu continha algumas poucas e pequenas nuvens que pareciam mais às de um painel pintado, reproduzindo os momentos que antecedem a chuva.   
Todos esperavam. 


Ela deveria vir para todos; sem exceção.  Era esperada.  



A estiagem deveria ceder ao período de chuvas, como em todos os anos. Então, viria. 
O homem que esperava não perder a colheita de um trabalho árduo, ansiava tanto quanto as mulheres que rondavam a cidade em busca de votos para um dos candidatos a prefeito que defendia, é claro, não as ideias que as agradavam, mas defendia a falta de uma iniciativa pró- chuvas.  
A despeito de alertas sobre fatores climáticos bem diferentes dos de sempre e de viverem num planeta mais diferente ainda, elas manifestavam–se à cidade, que queria com todo o querer, a chuva, contrariando-a.
Ora,... O que fariam com a chuva? Diziam.  
Não sabiam; Diziam a tempo e fora, viver do sol e que a  chuva... "Ora, a chuva", era coisa de um passado de restrições e enganos e perdas e tal...  
Era insano para os que refletiam nas ultimas poças de intelecto que resistiam à seca de tantas paixões.

“A chuva... - pensavam - é ainda eficaz, em outras áreas da cidade e próximo às lavouras somente...”.

Elas eram poucas, mas pensavam, por rodear a cidade e não ver mais nenhuma, rodeando-a, que eram a maioria. 

Estavam débeis.  Ficaram.

As beatas e os burocratas da região queriam também, que as águas descessem do céu azul e quase sem sombra.  
"A bendita água" de que tanto precisavam.  
As beatas, para lavar a igreja e os burocratas...  Estes, para não perder o que haviam gastado em suas empreitadas.

As crianças da creche da prefeitura e o gado de poucos fazendeiros não estavam em situação pior por pouco... 

Bem pouco. 

As autoridades estavam fora da cidade.  
Os trabalhadores, traziam do rio quase extinto que corria junto às minas, a água que abastecia o pequeno abrigo  infantil.   
O mesmo faziam os fazendeiros; para não sofrer o gado e a falta dele.

Havia crianças, jovens e mulheres na praça onde toda a conversa, somente era feita entre casais e onde o monólogo de uns poucos era difundido, com ares de dialogo. 

Na praça cenográfica, os comícios que queriam dizer que o povo dizia,  diziam que os homens não estavam lá! 

Ora... Os homens da cidade não poderiam parar a ponto de ir ver o tão esperado descer das águas, enunciado por todos!

Não podiam.  Eles estavam nas minas.

Mas, esperavam. Não como tolos, mas da forma que aprenderam.  O que para alguns, era tola. 

Todos os dias, antes de percorrerem a extensão que haviam cavado, juntavam-se em pequenos grupos e punham-se a queimar o que poderia ser queimado, na tentativa de fazer chuva, com o suor do rosto.  Daí, entravam e começavam então, a ganhar o pão. 

Esperavam que quando saíssem no fim do dia, as grossas nuvens que vislumbravam formarem-se no céu enquanto ainda atestavam a escuridão das minas, molhassem suas cabeças e lhes revigorassem o corpo.


Não se sabia ao certo, quem dera a noticia de que naquele dia, viriam tão rápido, as águas que já faltavam ao vilarejo e a toda a região, há cerca de 2 anos.
 Muitos não acreditavam, mas esperavam. Crendo ou não, de uma forma ou de outra, esperavam; No mesmo pedaço de mundo.

Havia também os jovens que dividiam suas vidas entre os que estudavam e os que eram enviados para o serviço militar. 
Os enviados nutriam um gosto especial pela cidade que os expulsara, enquanto os que ainda se assentavam em suas salas de aula, ansiosos, não pensavam na chuva; Mal podiam aguardar até que soasse o bendito sinal que os levaria dali, até o próximo e terrível dia.
Quando chegavam a suas casas, os que ligavam a tevê e abriam a geladeira, não queriam saber da chuva; 
Queriam o banho.

A falta, lhes mandaria ao quarto em poucos minutos; Apenas o tempo de conferirem o que poderia ser feito sem o liquido idiota.

As horas?  Passavam.

Todos; sem passado ou presente diverso, eram o povo da cidade sem chuva e sem futuro.

Na praça, representando alguns dos que estavam em casa nos quartos, alguns dos que se foram e muitos, - segundo os que mais gritavam - que eram "a maioria", estavam lá, gritando pelas formas e reformas do novo candidato atraente, que traria e atrairia a tudo o que superaria a própria chuva.

Onipresente como parecia ser, Ele, nem estava lá.


A discussão seguia e as horas se amontoavam, mas a chuva não caia.

E se passaram...  Dias e noites; e iam, se enfileirando, um após o outro, e pesando mais e cada vez mais, o pesar dos poucos que pesavam tudo o que faziam ali, enquanto a história dizia e lhes lembrava, de que não seria assim, o fim de seca dos dias.

Secos, um mais que o outro, eles agora retornavam às suas casas, deixando nas praças as mulheres que não queriam largar a praça de ideias que ainda reluziam em suas cabeças na noite escura e seca.

Um dos que pouco tinha notado a paisagem da bela cidade em tempos de luta por novas e impossíveis chuvas, deu-se o prazer de caminhar pelo caminho junto ao rio quase seco para ver entre montanhas ao longe, o que lhe poderia trazer de volta a esperança de um dia de chuva.

O contorno das montanhas, de um azul que indicava a alvorada, recobria também os tetos das casas e as copas das árvores que finalizavam a visão:
Era de um azul profundo, como antes e antes... 

A não ser, por sobre as minas: 


Generosamente, estavam cobertas de nuvens.



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